domingo, 4 de abril de 2010

Artigo do Veja a Lady Gaga

Abram alas para a lady



Todas as loucuras que o mundo da música já viu em matéria de figurino empalidecem diante de Lady Gaga. A estética do absurdo vira uma definição fraquinha, os desfiles de Carnaval parecem comportados, os parangolés de Hélio Oiticica viram uma capinha modesta. Beatles? Madonna? Freddie Mercury? Grace Jones? De todos eles, Stefani Germanotta,s o nome incrivelmente normal de uma cantora disposta a fazer as maiores loucuras, pegou alguma coisa e exagerou até os limites do improvável. Pelo menos em matéria de roupas, o mundo do show business se divide em antes de Gaga e depois de Gaga. Sendo que essa última categoria exige das demais concorrentes um trabalho danado. Em vão: ninguém se compara às esquisitices mercadologicamente brilhantes da cantora de dotes vocais moderados e incomparável capacidade de aparecer. Isso tem funcionado admiravelmente bem. Tudo o que ela faz vira notícia – como poderia ser diferente com uma mulher que põe uma lagosta na cabeça para ir jantar fora? Menina de classe média de Nova York, com formação musical média (mas capaz de produzir o onipresente ô, ô ô ô ô do hit Poker Face), Gaga fez o que muitos desejam mas poucos conseguem: criou um personagem. Vive na sua pele maquiada e nos seus saltos vertiginosos 24 horas. Não namora em público, não é vista trançando as pernas, não dá escândalo nem pensa em ir ao supermercado de madrugada de moletom e boné, como umas e outras. "Acredito numa vida de glamour e vivo assim. Não quero que ninguém faça separação entre quem eu sou de maquiagem e sem. Sou a mesma pessoa", proclama. "Prefiro a morte a aparecer para meus fãs sem salto alto."




No começo, para mostrar seu ponto forte – as pernas bem torneadas –, Gaga só andava de maiô, usava uma única peruca e estava sempre de óculos escuros enormes. Isso foi na pré-história, tipo uns dois anos atrás. Camadas e camadas de loucuras estilísticas surgiram desde então, muitas vezes recobrindo o rosto (de propósito, sibilam os maldosos, para atenuar seu ponto fraco). Descobrir as referências, como se diz no jargão da moda, no guarda-roupa (ou, em muitos casos, joga-fora-a-roupa) da cantora virou uma diversão para os especialistas ou amadores. Da excêntrica inglesa Isabella Blow, musa das loucuras estilísticas morta em 2007, ela emprestou a ideia do tal chapéu de crustáceos. Do palco do musical O Fantasma da Ópera, reeditou a meia-máscara (e chapéu, plumas, colares); da rainha Maria Antonieta, suprassumo da aristocracia fashion, a peruca onde o céu é o limite. Até de Edward Mãos de Tesoura, o personagem de Johnny Depp, veio a inspiração para uma capa de revista. Gaga, que se refere a si mesma na terceira pessoa porque "vivo minha vida inteiramente para servir ao meu trabalho e aos meus fãs", também sabe ser literal. Na divulgação da música Telephone, penteou o cabelo no formato de... telefone, daqueles antigos. Num aeroporto, embarcando para Los Angeles, apareceu simplesinha, de vestido emborrachado listrado de amarelo e preto, com luvas combinando, como nas placas de trânsito – referência a cenas do clipe da mesma música, ansiosamente aguardado.

Quem, afinal, cria tanta maluquice? A cantora tem uma equipe inteira para fazer loucuras, sob o inspirador nome de Haus of Gaga, uma espécie de núcleo duro formado por aderecistas, maquiadores e caçadores de extravagâncias, comandados por Matthew Williams, o "Matty Dada", que já foi seu namorado e de vez em quando volta a ser. "Dada é o máximo. Já tivemos um caso, mas parei quando percebi como era forte nossa conexão criativa", diz Gaga, que é um pouquinho dada a usar termos pretensiosos a respeito de sua ilustre pessoa. Ela também já teve stylists, os profissionais encarregados de compor o visual completo dos artistas, de nomes obscuros como a sueca B. Akerlund, na fase do clipe Paparazzi, e o nipo-italiano Nicola Formichetti, 32, na preparação da turnê Monster Ball. Produzida, maquiada e embalada nos mais vertiginosos arroubos de imaginação, Gaga tem um propósito. "Quero que a imagem seja tão forte que os fãs desejem comer, provar, lamber cada parte de nós", diz assim, no plural majestático. Vai uma lagosta na testa?






Fonte: Veja

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