segunda-feira, 14 de junho de 2010
Zeca Camargo fala de Gaga.
Sim, vou – inevitavelmente – falar de Madonna para discutir o novo vídeo da mais interessante artista pop deste século. Mas talvez não do jeito que você está pensando – não da maneira negativa como muitos já ensaiaram blogs afora. Vejamos: em “Alejandro”, as referências de GaGa ao trabalho de sua precursora (e musa semi-assumida) são tantas que merecem uma rápida listagem:
- os bailarinos de peito nu banhados por uma luz azulada, vêm direto do vídeo de “Express yourself”
- em vários momentos, os movimentos das mãos dos bailarinos formando ângulos em torno de suas cabeças têm a ver diretamente com “Vogue”
- o top que GaGa usa, com cones que terminam em réplicas de metralhadoras, lembra um que Madonna usa também em “Vogue”, além de ser uma clara “homenagem” ao sutiã icônico da turnê “Blonde ambition”.
- a roupa “religiosa” usada por Gaga tem uma sutil (sutil?) conexão com “Like a prayer” (reforçada por imagens de labaredas que aparecem às vezes ao fundo)
- as sugestões sado-masoquistas (com chicote e tudo), alguma dúvida? Foram tiradas de “Erotica”, claro!
- embora não seja uma referência explícita, aqueles homens de salto-agulha nos remetem a alguma cena que acabou não sendo editada para o vídeo de “Justify my love”.
Por tudo isso – e por mais alguma coisa que talvez tenha me escapado – eu diria que são no mínimo tolas as acusações na internet de que GaGa teria “chupado” ideias demais de Madonna, numa insinuação de que a primeira já estaria ficando sem ideias, e precisando beber na fonte da segunda para alguma inspiração… Quanta bobagem…
Alguém acha mesmo que essas referências todas são uma usurpação – e não uma homenagem? Pense comigo: se Lady GaGa precisasse mesmo se “escorar” em Madonna para chamar a atenção, ela não ia esperar sua carreira já estar consolidada para fazer isso. Com alguns vídeos de linguagem própria e original que já estão entre os mais vistos da história da internet, a última coisa que GaGa precisava era uma “muleta” dessas. O que esses críticos parecem não entender é que todo o vídeo de “Alejandro” é um grande tributo a Madonna em forma de pastiche – e um pastiche muito bem feito (não digo isso para diminuir em nada o clipe!).
E, por falar em pastiche, o mesmo vale para a própria música – pelo menos nessa versão apresentada no clipe. Não a rebatizei de “La isla bonita redux” à toa… O “sotaque” latino da faixa tem tudo a ver com o sucesso mais “espanholado” de Madonna. Mas há ainda outras curiosas referências sonoras em “Alejandro”, desde uma piscadela para “Fernando” (do ABBA), até o balanço irresistível da base da música, que não esconde sua admiração por um antigo “hit” internacional chamado “All that she wants” (do injustamente esquecido Ace of Base) – e eu percebo até uma velada homenagem a uma antiga diva da “eurodisco” dos anos 80, Sandra, com sua impagável “(I’ll never be) Maria Magdalena”! Alguém vai criticar GaGa por isso?
Meu caro, minha cara – o pop é feito disso! De gente genial que pega tudo, mistura e vem com uma coisa ainda mais genial. E quer discutir se “Alejandro” é mesmo um momento genial do pop? Então antes me responda: quantas vezes você já se viu repetindo mentalmente seu hipnótico refrão – “Ale-alejandro!” – depois de ter ouvido apenas uma vez a música? Aliás,será que você ouviu a música apenas uma vez? Mesmo que não tenha sido uma ação voluntária – a de dar um “replay” no seu iPod logo depois de a canção terminar –, você sabe bem que é só dar um giro pelo dial de qualquer rádio para esbarrar nela (ainda não tive o prazer de ouvi-la na noite, mas mal posso esperar o próximo convite para ser DJ por uma noite para me certificar que “Alejandro” é sim um ímã para a pista de dança!).
Por tudo isso, como diria o Sex Pistols, “Deus salve a rainha”! Aos que achavam que o facho de Lady GaGa já estava sossegando, ela acaba de mandar mais um recado, como quem diz: “Pode guardar sua torcida contra, porque eu vou em frente, sem deixar de acreditar na minha loucura, na minha inspiração, e no meu trabalho”. E faço, das suas, as minhas palavras…
(Em tempo: aqui vão as “legendas” das fotos do post anterior – de cima para baixo: Exterior do Louvre, em Paris; Convent Garden, em Londres; Copenhagen; Museu de Pérgamo, Berlim; e o jardim das esculturas do Museu de Arte Moderna, em Nova York. Obrigado pelas tentativas!)
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